quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Aposentadoria Precoce Extrema

Na Internet pude encontrar uma proposta de estratégia de finanças pessoais bem diferente do que estamos acostumados, que é a Aposentadoria Precoce Extrema (Early Retirement Extreme, ou ERE).

A filosofia do ERE sugere que você adote um estilo de vida extremamente frugal para deixar de trabalhar em poucos anos. Contrasta com a estratégia mais conhecida de trabalhar e viver poupando para acumular patrimônio de modo a atingir a riqueza.

Para conseguir a Aposentadoria Precoce Extrema é necessário atingir um patamar de patrimônio muito menor, menor que a marca psicológica do "primeiro milhão". Note que acumular o "primeiro milhão de reais" não torna ninguém rico, e mesmo assim, para quem começa do zero, é uma marca bastante difícil de alcançar.

Pelos posts que vejo em certos blogs de finanças brasileiros, a filosofia dos jovens poupadores é atingir a independência financeira antes dos 30 ou 40 anos, já que depois disso é o fim da vida. Note que muitas vezes a idéia de independência financeira é misturada com sonhos de riqueza e ostentação, mas se formos fazer uma simples "conta de padeiro" veremos que a coisa na vida real não é bem assim...

Vamos supor um jovem recém-formado, lá pelos 23 anos, consegue passar em um bom concurso púlico e passe a ganhar 10k brutos mensais. Desse salário, com uma boa dose de frugalidade e vivendo com os pais, consegue economizar 60k anuais.

Com um rendimento REAL generoso de 0,5% mensais ele acumula aproximadamente R$350k em 5 anos. Nesta altura da vida ele está com 28 anos, sem apartamento e sem carro. Nessa altura do campeonato é bastante provável que acabe comprando à vista um carro mediano de 50k, afinal todo mundo no trabalho tem um carro, porque ele não? Note que o rapaz está chegando próximo dos 30 anos e continua morando com os pais. Os 300k restantes permitem comprar um apartamento simples nas grandes cidades brasileiras, mas vamos supor que ele continue morando com os pais e poupe mais dinheiro. Para facilitar as contas, vamos desconsiderar eventuais promoções no trabalho e os gastos de manutenção com o carro e namoradas.

Chega os 33 anos e ele acumulou mais R$350k durante esses 5 anos, além dos 300k iniciais, totalizando R$750k (os 300k já existentes viraram 400k). Ele está próximo do sonhado "primeiro milhão", mas continua morando com os pais. Existe a pressão social para que finalmente aos 33 anos ele deixe a casa dos pais, assim ele compra um apartamento usado de dois dormitórios em um bom bairro da metropóle, pagando 450k.

Note que com um rendimento de 10k que muitos tanto sonham, e mesmo vivendo frugalmente, o nosso herói de 33 anos conseguiu um carro (que já tem 5 anos) e um apartamento bom, mas longe de uma vida de luxo. Estou supondo também que ele esteja resistindo à idéia de se casar e ter filhos, senão a pressão de gastos seria muito maior e não conseguiria fazer os mesmos aportes mensais.

Passam mais 5 anos e ele volta novamente ao patamar de R$750k equivalentes ao padrão de hoje. Para facilitar as contas, desconsidero promoções no trabalho, mas em compensação desconsidero os gastos com o carro velho e com o apartamento. Ele já tem 38 anos e tem uma vida boa e segura para o padrão brasileiro, mas muito longe dos sonhos imaginados por muitos jovens anônimos que postam no blog do Pobreta, por exemplo. Aos 38 anos, ele ainda está no meio do caminho da independência financeira que permita largar o emprego, a não ser que ele se dê por satisfeito com os R$3.750 reais que rendem de sua aplicação. Claro que nosso herói hipotético poderia resolver deixar a frugalidade de lado e começar a gastar com viagens, carros mais caros, e festas, mas teria que continuar trabalhando até a aposentadoria.


No ERE, além do acumulo de patrimônio, a independência financeira é conseguida através da redução radical do consumo, fazendo as coisas por si mesmo (filosofia do it yourself), gastando seu tempo aprendendo coisas úteis, vivendo sem carro, roupas de marca, e celular. Certamente não é um estilo de vida que torna o sujeito atraente financeiramente para as periguetes, mas o deixa com tempo para cuidar melhor da saúde e do corpo. Só o fato de viver sem o stress do dia-a-dia deve fazer uma grande diferença para o sujeito, inclusive na parte sexual.

Exemplos de coisas que se faz ao adotar esse estilo de vida:
- ao invés de carro, andar de bicicleta e aprender a consertar a bicicleta você mesmo;
- largar o consumo de gadgets e tralhas eletrônicas que ficam encostadas a maior parte do tempo;
- aprender a cozinhar e usar ingredientes mais baratos e saudáveis;
- aprender a costurar e consertar suas roupas;
- criar soluções caseiras diversas, como manter uma horta no quintal;


Maiores informações no site do ERE (em inglês): http://earlyretirementextreme.com/


Com um gasto mensal muito menor, tem-se dois efeitos para deixar de trabalhar cedo:

a) consegue-se poupar bem mais durante a fase de acumulação;
b) requer um patrimônio menor para conseguir a independência financeira, porque a filosofia do ERE é manter esse estilo de vida simples e frugal para o restante da vida.


Obviamente não existe uma regra universal de quanto deve se acumular para conseguir essa IF, mas certamente é uma fração do que seria a IF para manter um estilo de vida "normal". O autor norte-americano do ERE diz que vive com US$7000 anuais, o que dá aproximadamente R$1500 mensais. Esse valor de renda real pode ser conseguido atualmente com R$300.000 aplicado em FIIs diversificadas.

http://earlyretirementextreme.com/how-i-live-on-7000-per-year.html


É um assunto bastante polêmico, que afeta várias áreas da vida, e essa filosofia de vida um tanto radical permite refletir inclusive sobre o que é a felicidade. É uma forma de IF que é muito mais fácil de se atingir, possível de ser conseguida em poucos anos, ao contrário da busca do sonho do primeiro milhão. Sem dúvida requer uma grande dose de coragem.

Nota do Bullock: com apartamento próprio, atualmente eu conseguiria viver tranquilamente com aproximadamente R$2.000 mensais, nem seria uma vida tão frugal assim, porque manteria certos confortos como Internet, TV a cabo, ar condicionado, e até mesmo baladas. Tirando as baladas da conta, ficaria mais ou menos no padrão do autor do ERE, de US$7000 anuais. Deixando de trabalhar, gastaria mais com a conta de luz, mas ao mesmo tempo gastaria menos com o transporte diário.

R$350 condomínio (isento de IPTU)
R$200 TV paga e Internet
R$150 ônibus (deixando de trabalhar, este gasto cai)
R$100 luz (com ar ligado no verão)
R$600 supermercado
R$600 baladas



3 comentários:

  1. apesar de eu estar prestando concursos, é por ai que pretendo viver minha vida: LOW COST ao máximo, se possível trabalhar meio período e foda-se o resto... hoje. 3k dá e sobra, ainda vou ter margem pra investir.

    vou por a mulher pra trabalhar, ja que essas FDP que adoram gastar (eu viveria com 500 por mes folgadamente, com direito a atirar no estande e jogar bilhar no buteco), ela que ganhe a grana dela, ajude em casa, e gaste com as merdas dela...

    conforme a idade for chegando, os investimentos vão dando resultados, formando um belo patrimonio gerador de renda, enquanto ainda posso aposentar sussa no serviço público...

    não precisa de muito!

    abraço

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  2. Bullock, minha meta é 20k/mês para segurança financeira. Din din sempre é bão.

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  3. @Victor: melhor pro bolso é nem casar! só ficar... ;)
    @Trader: 20k/mês é na base de uns 4 milhões!!! Fico satisfeito com menos! :P

    Abraços

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